29/11/2022
Para que viajar? (...) A vida é o que fazemos d'ella.
As viagens são os viajantes.
O que vemos não é o que vemos, senão o que somos.
Fernando Pessoa
(Bernado Soares, O Livro do Desassossego , Lisboa, 1982, vol. 2, p.133)
1/12/2022
O futuro não é mais como antigamente:
visões sobre o Arquivo do Futuro diante os restos do presente
Nesta etapa quase final do processo, digo quase final porque é um labirinto sem saída, começo a construir meu gabinete de futuro com imagens de ontem.
Penso aqui em imagens de ontem como as imagens levantadas junto a pesquisas feitas aos documentos de naturalistas do sec XV e sec XVI.
02/12/2022
(...)Através dos olhares destes viajantes, muitas vezes excêntricos, quase sempre preconceituosos e cruéis, por vezes judiciosos e certeiros, obtém-se um retrato da cultura setecentista e oitocentista(...) (Disponível em https://jornaleconomico.pt/noticias/os-viajantes-e-o-livro-dos-museus-533954, acessado em 29/11/2022)
Baseado neste pensamento, passei a selecionar imagens do vegetal, mineral e animal para meu Gabinete de futuro. Durante a pesquisa me deparei com um texto sobre o Colonialismo de Dados e as tecnologias no século XXI, o que me levou a pesquisar também inteligência Artificial e as AI (inteligência Artificial) disponíveis na rede para usar livremente e leigamente, para produzir as imagens do futuro que poderiam vir a compor “os gabinetes”, geradas desta vez por meio dessas tecnologias.
Fiz alguns testes e optei por usar o Dall-E, Dall-E é o que pesquisadores de IA chamam de rede neural: um sistema matemático baseado vagamente na rede de neurônios do cérebro. Essa visão computacional é uma técnica que implementa o deep learning e a identificação de padrões para interpretar o conteúdo de uma imagem. A ação é feita entre os mais diversos tipos, incluindo os gráficos, tabelas e imagens em documentos PDF, bem como outros textos e vídeos.
Dessa forma, a visão computacional é um campo integral da inteligência artificial, permitindo que os computadores identifiquem, processem e interpretem dados visuais e se tornam mais ativos ao definir quais dados serão usados para maior precisão na resposta.
O DALL-E, no entanto, é capaz de gerá-las a partir de instruções de linguagem natural, que "entende (...) De acordo com a MIT Technology Review, um dos objetivos do Open AI era "dar aos modelos de linguagem uma melhor compreensão dos conceitos cotidianos que os humanos usam para dar sentido às coisas". Ele pode combinar conceitos, atributos e estilos."(...)
Passo a usar o DALL-E como um instrumento de intermediação entre a minha pesquisa e as imagens que gostaria para montar meu Gabinete sem Identificação (...)
com frases como:
gabinetes de curiosidades, quartos de maravilhas eram conhecidos como "Cabinets de Curiosités”, "Wunderkammern” , "Wonder Chambers" e "Kunstkammer" , naturalia, onde eram agrupados as criaturas e objetos naturais; exotica, onde eram agrupados plantas e animais exóticos; scientifica, onde eram agrupados os instrumentos científicos, durante a época das grandes explorações e descobrimentos dos séculos XVI e XVII, se colecionava uma multiplicidade de objetos raros ou estranhos animal, vegetal e mineral.
Um gabinete de curiosidades Naturalis Exploratorium filosófico cientifico com fauna e flora, botânica, viajantes naturalistas descobrimento, Brasil. Amazonia, ouro, mapas antigos século XV, XVI
A cabinet of curiosities Naturalis Exploratorium scientific philosophical with fauna and flora, botany, naturalistic travelers discovery, Brazil. Amazonia, gold, ancient maps fifteenth century XV, XVI
A photography hyper realistic of detail of a cabinet of curiosities nature,scientific,philosophical with botany, naturalistic travelers discovery Amazonia by zoólogo Johann Baptist von Spix e o botânico Carl Friedrich Martius
A photography hyper realistic of a cabinet of curiosities nature, scientific, philosophical with botanical, seeds materials of naturalistic travelers by zoólogo Johann Baptist von Spix e o botânico Carl Friedrich Martius and Goethe e Darwin
Portanto, o processo de pesquisa para criação de um Gabinete no Século XXI em grande medida é um trabalho sobre a constatação de que as imagens do futuro (via inteligência artificial, mas também aquelas disponíveis em arquivos e acervos europeus) ainda são predominantemente regidas por filtros e regimes colonialistas do ver e do pensar que intermediam os modos de olhar para a história da ciência e da arte e a política das imagens.
5/12/2022
06/12/2022
07/12/2022
PEPITA DE OURO NATIVO
Brasil, Goiás(?), séc, XVIII (2,° met.)
Ouro aglomerado com quartze e óxidos de ferro
Conta-se que, na segunda metade do século XVIII, em Golás,
no Arraial de Água Quente foi achada uma grande pepíta com
semelhante peso e que, dada a sua raridade, foi envíada para a
Ajuda, em Lísboa, Também conhecida como “’torrão", porventura
devido a sua cor e textura, esta pepita, que escapou as invasões
napoleónicas, foi, pela sua raridade e por iniciativa de D. Luís I,
exibida em 1876 num baile no Paço da Ajuda. (fotografado no Museu do Tesouro Real. Joias da Coroa em 04/12/2022)
O Rinoceronte de Dürer é um símbolo do descobrimento e um marco da iconografia científica. Até o século XV, os desenhos de animais e outros objetos naturais eram pouco detalhados, não possuíam perspectiva e davam uma fraca idéia do original. Dürer e outros artistas conseguiram transformar totalmente a representação da natureza.
Dürer realizou seu desenho, 1515, baseado em um esboço feito por um português, conseguindo apesar disso dar à figura uma aparência real, viva, tridimensional.
(...)Apesar das incoerências anatómicas, o desenho de Dürer, primeiramente descrito no poemetto de Giovanni Giavomo Penni, tornou-se muito famoso na Europa e (...) foi tomado como uma verdadeira representação de rinoceronte até ao século XVIII.
Tem sido dito em relação a este desenho de Dürer que "provavelmente nenhuma imagem de um animal exerceu uma tão profunda influência nas artes".
A inscrição em alemão na xilogravura, com base no relato de Plínio, diz::
“No primeiro dia de Maio de do ano de 1513 AD [sic], o poderoso rei de Portugal, Manuel de Lisboa, trouxe este animal vivo da Índia, chamado rinoceronte. Esta é uma representação precisa e completa. Tem a cor de uma tartaruga às pintas,] e é quase que por completo coberto de espessas. Tem o tamanho de um elefante mas com pernas mais curtas e é praticamente invulnerável. Tem um forte corno no extremo do seu nariz, que afia nas pedras. É o inimigo mortal do elefante. O elefante tem medo do rinoceronte, pois, quando ficam frente-a-frente, o rinoceronte ataca com a sua cabeça entre as suas patas anteriores e as costelas abrindo o estômago do elefante, e o elefante é incapaz de se defender. O rinoceronte está tão bem armado que o elefante não lhe consegue fazer mal. Diz-se que o rinoceronte é rápido, impetuoso e arrojado.
(Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Rinoceronte_de_Dürer#cite_note-Clarke20-4, acessado em 11/12/2022)
13/12/2022
(...)Ao nível mais profundo, o pensamento é um processo decididamente analógico. Antes de captar o mundo em conceitos, é captado por ele, ou melhor, afetado por ele. O afetivo é essencial para o pensamento humano. A primeira imagem mental é a pele de galinha. Por esse motivo, a inteligência artificial não pode pensar, porque não fica com pele de galinha. Falta-lhe a dimensão afetivo-analógica, a emoção, que os dados e a informação não conseguem reter.(...)
(...)A inteligência artificial aprende com o passado.(...)
(...)O futuro que calcula não é um futuro no sentido próprio do termo.(...)
(...) inteligência artificial só opta por uma escolha entre opções previamente dadas, ou, em última instância, entre um e zero. Não sai do previamente dado para se dirigir até ao nunca percorrido. O pensamento em sentido enfático cria um mundo novo. Está a caminho do completamente diferente, do alhures.(...)
A informação e os dados não têm profundidade. (...) Byung-Chul Han, Não-Coisas Transformações no Mundo em Que Vivemos. Relógio D' Água, Lisboa, 2021.p.45 a 51.
Parte do Gabinete Exploratorius que será instalado na Finestra Sinistra do NowHere
Dezembro 2022 - Lisboa.
Imagem gerada em parceria com Dall-E e Humana Elaine, retrabalhada por Elaine Pessoa mas mesmo assim será plana...
14/12/2022
15/12/2022
16/12/2022
É com grande alegria e a sensação de realização, que inauguro a Finestra Sinistra no nowhere_lisboa com uma das possíveis versões da pesquisa acima registrada do Projeto Exploratorious, resultado da residência artística no NowHere.
(...)Partindo das imagens produzidas por artistas viajantes e cientistas sobre o Brasil, Elaine pesquisou arquivos e coleções portuguesas e iniciou um processo de experimentação com programas de inteligência artificial. Palavras-chaves guiaram a produção das imagens para um gabinete de curiosidades. A instalação que resulta da pesquisa interroga sobre a continuação e atualização do colonialismo, desta vez um colonialismo de dados e da produção de imagens. (...)
Comentário de Cristiana Tejo sobre o projeto, o mesmo foi acompanhado e orientado por ela.
Exploratorious fica em cartaz até 26 de janeiro.
Cristiana Tejo é uma das fundadoras do NowHere (*) Curadora independente e investigadora integrada do Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa. Doutora em Sociologia e Mestre em Comunicação pela UFPE. Foi Diretora do Museu de Arte Moderna do Recife, Curadora e Coordenadora dos programas públicos do Instituto de Cultura da Fundação Joaquim Nabuco e curadora da Sala Especial de Paulo Bruscky na X Bienal de Havana. É co-curadora do 37º Panorama da Arte Brasileira, no MAM de São Paulo. Vive e trabalha em Lisboa
(*) NowHere é um coletivo fundado em 2018 em Lisboa pela curadora Cristiana Tejo e pela artista Marilá Dardot, ambas imigrantes brasileiras. Operando inicialmente no estúdio de Marilá, a intenção sempre foi criar um ambiente instigante, aberto a trocas horizontais, e respeitoso para a discussão de estratégias conceituais e expressivas d_s artistas participantes, oferecendo interlocução, cumplicidade e integração no ambiente artístico local para pessoas de todas as origens. Com o passar do tempo e o crescimento da comunidade, viu-se a necessidade em ter um espaço físico que pudesse realizar tanto os laboratórios como as exposições. Em 2021, a artista Luiza Baldan juntou-se ao grupo com mala, cuia e ateliê, para trabalhar em muitas frentes.
NowHere é um coletivo de mulheres mães imigrantes, adaptando-se aos tempos e desafios, em uma esquina movimentada do centro da cidade, abrigando, inventando, apoiando, e dando visibilidade àquel_s que embarcam nesta incrível jornada na rota do elétrico 28.
foto de Rafael Moretti que sou super grata, com sua expertise em Produção artistica me deu a mão e ajudou a concretizar.